Monday, 8 April 2024

Por que não consigo ficar offline?

Ficar offline, como dizia Uaba no post que me deu o disparo pra começar a escrever isso aqui, parece a solução ideal. Limpar minha cabeça das porcarias que recebo involuntariamente e voltar a ter tempo pra fazer como um jovem nos anos 90: ler livros, conhecer os livros nas livrarias, pisar na grama, tirar fotos e esperar uma semana pra ver o resultado, ligar pra conversar com uma pessoa de verdade, usar todos os papéis que eu guardo num junk journal analógico, escrever uma carta de uma página inteira, assistir os programas de tv que a tv escolhe ao invés de ser soterrada por mil opções de streaming. 

Mas eu não consigo.

tirei essa foto pra ilustrar o post, não gostei dela mas gostei das cores pós edição

Eu gosto da internet. Eu gosto do fato de que esse blog só existe por causa dela, que me permite manter um contato com vários outros donos de blogs legais. A internet me permite conhecer pessoas legais que moram bem longe de mim, e aprender coisas que de outro modo me custariam mais tempo, dinheiro ou nem seriam acessíveis. Eu não quero renunciar a isso.
Sou uma usuária crônica do Google pra resolver minha vida, a marca de ter crescido nos anos 2000-2010. Meu histórico atual revela que nas últimas horas eu precisei descobrir quem é Peridot do Steven Universe, tentei aprender como colocar múltiplos status no widget do status cafe, o contexto da piada "todo viado é surdo" (dúvida oriunda do artigo sobre o Casseta & Planeta na wikipedia), o que é uma Pop 100 e se o tuíte "é corna mas ela dirige o carro dele todos os dias" era um meme ou uma fala genuína de alguém (dúvida oriunda dos tuítes sobre o cd novo da Beyoncé). Se eu abandonar a internet, como responderei todas essas dúvidas? Ao mesmo tempo que me pergunto isso, percebo que todas essas dúvidas vieram do uso da internet. Detesto a ideia de não saber das coisas, e estar online me proporciona aprender um monte de coisa nova - mas expondo assim me parece que nem todas essas coisas são realmente importantes.

Também venho bater ponto aqui quando estou me sentindo criativa. Tenho a impressão que nunca fui criativa offline, se eu descontar algumas histórias bobas que escrevi antes dos onze anos de idade. Meus primeiros passos no mundinho expressão da minha cabeça foi escrevendo fanfics no fanfiction.net, e hoje eu escrevo num documento com salvamento na nuvem no Google Drive. Namorei a fotografia alheia no Flickr e no Weheartit antes de começar a compartilhar as minhas próprias imagens, e o YouTube é outro recurso que as vezes me coloca em contato com ótimos vídeos artísticos independentes. O próprio Blogger é uma plataforma a serviço da criatividade. Se eu quero aprender a desenhar ou pintar, procuro tutoriais. As poucas aulas de desenho e pintura que fiz foram online. O Domestika me oferece cursos. O Pinterest é uma revista gratuita infinita, cheia de coisas bonitas e com acesso fácil. A alternativa a isso era ir na banca de revistas (ainda existe isso?) e comprar uma revista que me ensinasse a pintar em tecido ou fazer bordado em fita, e ela parece tão limitada. Abrir mão disso parece até meio sacrílego. Outra situação relacionada é o acesso ~livre a mídias (livros e músicas, principalmente).

Por fim, cada vez mais tenho dependido da internet para ter relações sociais. Sempre fui meio tímida e esquisita, e meu forte nunca foi fazer amigos adoidado na vida real. Mantenho contato com meus amigos mais antigos pelo Whatsapp (não moramos mais na mesma cidade), e conheci pessoas muito preciosas nesse mundinho online que procuro manter por perto, mas como a interação cotidiana se dava na pracinha das redes sociais, eu inevitavelmente perco um pouco do contato quando decido priorizar minha cabeça ser rebelde e dar as costas pras redes. E eu realmente não curto ficar sozinha por longos períodos de tempo.

Pra concluir essa trilogia, sinto que o excesso de informação virtual faz mal pra minha cabeça, e que isso ocorre principalmente nesse contexto de redes sociais e sites/apps de comércio. A informação ali não tem tanto foco no conteúdo e sim em fazer a mensagem ser ouvida - mais é mais. Sinto minhas emoções manipuladas pra me fazer ir atrás de algo e isso exige que eu pare e pense por um segundo pra não gastar meu tempo com coisas que realmente não me servem.
Não quero me tornar a velha saudosista que acha que no tempo dela tudo era melhor, mas me sinto cada vez mais a vontade blogando à moda antiga. Faz um bom tempo que escrevi algo sobre a diferença entre produzir e consumir, sendo a última uma condição passiva, e quanto mais eu penso na internet, mais eu percebo que eu fico mal quando consumo muito e produzo pouco. Me forçar a produzir mais e consumir menos parece - ao menos em teoria - uma solução pra encontrar um equilíbrio saudável aqui.

PS: esse tuite de uns tempos atrás que eu acho que foi bem pertinente:


11 comments:

  1. ah porque quando tudo isso aqui era mato...

    ao mesmo tempo que gosto de me agarrar as simplicidades mentais de quando era mato mesmo não consigo me imaginar sendo criativa sem a internet também

    talvez até teria mais tempo pra ler, para gostar de exercícios ou sabe-se lá o que mas deus me free depender dos preços exorbitantes das livrarias e das indicações de vendedores estranhos

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    1. ah porque no meu tempo tudo era mato kkkkkkk
      era melhor, mas era pior. era pior, mas era melhor. temos MUITO mais comodidade e eu não acho que quero abrir mão disso (internet banking, invenção dos deuses), mas acho que preciso encontrar um equilíbrio entre a comodidade e as coisas que eu sacrifico por ela. gente, que processo complicado

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  2. Eu estou louca pra me tornar uma velha saudosista porque, "naquela época", era melhor mesmo. Antes de a gente ser bombardeado de ads e algoritmos, TUDO era melhor. O Twitter era só foto de gatinho, o Fotolog era a rede social com as pioneiras em influência, o próprio Blogger era gostosinho de usar e mais fácil de mexer no HTML. As pessoas lembravam do aniversário umas das outras. E tinha Orkut. O Orkut era demais.
    Agora a gente recebe quinhentas notificações até sobre o que a pessoa que a gente não segue postou ou curtiu. Tipo, foda-se? E agora também aprenderam a nos prender nos vídeos curtos. Vídeo curto em loop é a maior praga dessa geração. Nos primórdios do YouTube eu tinha vídeo curto da faculdade ou jogando sinuca, editava, colocava musiquinha, colocava legenda, e esse esforço por guardar memórias foi se perdendo porque perdeu o valor. O que é valorado agora é o que dá validação através de likes. Mas enfim.
    Eu tenho exercitado ficar sem tocar no celular em momentos de tédio e, nesse sentido, dou graças a Deus que não tenho abundância de amizades tagarelas em grupos no Whatsapp pra me manter distraída e improdutiva o dia inteiro.
    Acho que essa necessidade que eu sinto de me desconectar um pouco do celular é o que me empurrou de volta para os diários e agendas ou mesmo para os video games. Fazer qualquer outra coisa que não seja perder tempo olhando fotos dos outros no Instagram (que já bombardeia nosso feed com fotos de quem nem conhecemos) tem bastado pra mim.
    Comentário longo, sorry!!

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    1. jamais peça desculpa por escrever comentarios longos!!!!! todas as suas palavras sao muito importantes pra esse estabelecimento!!! hahahaha
      nossa, eu queria ter essa força de vontade para nao TOCAR no celular em alguns periodos do dia. to sempre com o meu na mao, e frequentemente desbloqueio ele de forma automatica pra ver sei lá o que (bosta). e sim, estamos presos nos vídeos curtos com começo provocativo que frequentemente também entregam bosta no final, mas voce fica la pra ver mesmo assim. acho que vc entende bem o que eu sinto!!!

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  3. Feliz de ter aberto uma reflexão, é como se nossos posts dialogassem (esse e o seu anterior também). Quando eu fico longe das redes, minha sensação é a de que minha mente esvazia, são menos estímulos. E concordo com você, muitas das nossas curiosidades e gostos vêm justamente da internet. Tenho muitos amigos da internet, pessoas preciosas, mas às vezes me dá uma tristeza pensar que talvez eu nunca possa conhecê-los na vida real, sabe?! Enfim. Beijos :)

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    1. como LIDAR?????? a pergunta de milhoes é essa. como manter as coisas boas sem se sentir cheia de estimulos inuteis????

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  4. Esse tuíte (é assim que fala?!) resumiu tudo. A internet é super útil, mas ela não susbtitui tudo. E acho que tem muita gente sentindo essa necessidade de dar um passo pra trás e viver mais off do que on. Vejo muita gente saindo das redes sociais e é legal ver que ainda tem gente na blogsfera simplesmente por gostar do slow content.

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    1. socorro Claudia!!! ainda bem que eu achei esse espacinho de conforto no mundo dos blogs, assim como o seu hehehe <3 <3

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  5. Sua foto de ilustração do posto me lembrou as fotos encontradas no we heart it antigamente.

    Eu acho que a gente acaba dando muita importancia pro papel da internet e das redes sociais nas nossas vidas. Não que a atual organização delas não seja prejudicial, juntamente com a atual cultura de uso que ronda elas e que a gente acaba transferindo para diferentes espaços na internet. Mas ainda assim é algo pequeno e que pode ser esquecido no momento que você sai do celular.

    E sobre inspiração, eu acho que a internet é uma fonte muito cômoda e vasta de inspiração, porque você não precisa sair de casa em busca de vivências e espaços que te inspirem, mas o ideal era que a gente se rodeasse de situações e pessoas inspiradoras e parasse de depender de estímulos passivos de inspiração. Não que a interent não seja uma ótima fonte de inspiração e uma mão na roda pra quem tem dificuldade com interações sociais no mundo real, mas é possível buscar inspirações fora dela também. Novamente, a gente é que dá muita importância pra internet e as coisas que surgem dela.

    Muito boa reflexão que seu texto traz!

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    1. siiiiiiiiiiiiim, agora que voce comentou eu entendi que é por isso que gostei da edicao. meio hipster anos 2010 ahuahauhauhua
      tem razao, existe inspracao na vida real - só que num formato muito menos polido, por assim dizer. e é legal lembrar disso, pra gente diversificar as fontes de onde bebemos!! obrigada pelo seu comentario, Lana <333

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  6. Nossa, Emi, eu te entendo completamente. É realmente difícil viver essa tensão do online e offline. Confesso que também gosto muito da internet. Com ela eu pude estudar muitas coisas que, de outro modo, não seria possível. Quando eu tinha uns 13 anos comecei a estudar japonês sozinha. Encontrei milhares de sites, canais do YouTube, blogs e materiais didáticos totalmente gratuitos. Isso impactou tanto a minha história que decidi fazer a graduação em Japonês na USP. Me formei no ano passado e é realmente muito maluco pensar em como eu fui parar lá. Mas, por outro lado, percebo como essa estrutura das redes sociais me traz uma perturbação mental muito grande. São muitos assuntos completamente aleatórios chamando a nossa atenção durante o dia todo. Já tentei várias vezes desistalar o Instagram, mas acabava entrando pelo navegador e dava na mesma. Agora estou tentando diminuir um pouco, deixar outras formas de distração ao meu redor, como livros, e aceitar que faz bem ficar sem fazer nada.
    Estou muito feliz por ter encontrado o seu blog. Vai ser uma grande alegria ler as suas postagens.
    Um abraço, Gabriela.
    https://petalasdemaioblog.wordpress.com/

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