Ficar offline, como dizia Uaba no post que me deu o disparo pra começar a escrever isso aqui, parece a solução ideal. Limpar minha cabeça das porcarias que recebo involuntariamente e voltar a ter tempo pra fazer como um jovem nos anos 90: ler livros, conhecer os livros nas livrarias, pisar na grama, tirar fotos e esperar uma semana pra ver o resultado, ligar pra conversar com uma pessoa de verdade, usar todos os papéis que eu guardo num junk journal analógico, escrever uma carta de uma página inteira, assistir os programas de tv que a tv escolhe ao invés de ser soterrada por mil opções de streaming.
Mas eu não consigo.
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tirei essa foto pra ilustrar o post, não gostei dela mas gostei das cores pós edição
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Eu gosto da internet. Eu gosto do fato de que esse blog só existe por causa dela, que me permite manter um contato com vários outros donos de blogs legais. A internet me permite conhecer pessoas legais que moram bem longe de mim, e aprender coisas que de outro modo me custariam mais tempo, dinheiro ou nem seriam acessíveis. Eu não quero renunciar a isso.
Sou uma usuária crônica do Google pra resolver minha vida, a marca de ter crescido nos anos 2000-2010. Meu histórico atual revela que nas últimas horas eu precisei descobrir quem é Peridot do Steven Universe, tentei aprender como colocar múltiplos status no widget do status cafe, o contexto da piada "todo viado é surdo" (dúvida oriunda do artigo sobre o Casseta & Planeta na wikipedia), o que é uma Pop 100 e se o tuíte "é corna mas ela dirige o carro dele todos os dias" era um meme ou uma fala genuína de alguém (dúvida oriunda dos tuítes sobre o cd novo da Beyoncé). Se eu abandonar a internet, como responderei todas essas dúvidas? Ao mesmo tempo que me pergunto isso, percebo que todas essas dúvidas vieram do uso da internet. Detesto a ideia de não saber das coisas, e estar online me proporciona aprender um monte de coisa nova - mas expondo assim me parece que nem todas essas coisas são realmente importantes.
Também venho bater ponto aqui quando estou me sentindo criativa. Tenho a impressão que nunca fui criativa offline, se eu descontar algumas histórias bobas que escrevi antes dos onze anos de idade. Meus primeiros passos no mundinho expressão da minha cabeça foi escrevendo fanfics no fanfiction.net, e hoje eu escrevo num documento com salvamento na nuvem no Google Drive. Namorei a fotografia alheia no Flickr e no Weheartit antes de começar a compartilhar as minhas próprias imagens, e o YouTube é outro recurso que as vezes me coloca em contato com ótimos vídeos artísticos independentes. O próprio Blogger é uma plataforma a serviço da criatividade. Se eu quero aprender a desenhar ou pintar, procuro tutoriais. As poucas aulas de desenho e pintura que fiz foram online. O Domestika me oferece cursos. O Pinterest é uma revista gratuita infinita, cheia de coisas bonitas e com acesso fácil. A alternativa a isso era ir na banca de revistas (ainda existe isso?) e comprar uma revista que me ensinasse a pintar em tecido ou fazer bordado em fita, e ela parece tão limitada. Abrir mão disso parece até meio sacrílego. Outra situação relacionada é o acesso ~livre a mídias (livros e músicas, principalmente).
Por fim, cada vez mais tenho dependido da internet para ter relações sociais. Sempre fui meio tímida e esquisita, e meu forte nunca foi fazer amigos adoidado na vida real. Mantenho contato com meus amigos mais antigos pelo Whatsapp (não moramos mais na mesma cidade), e conheci pessoas muito preciosas nesse mundinho online que procuro manter por perto, mas como a interação cotidiana se dava na pracinha das redes sociais, eu inevitavelmente perco um pouco do contato quando decido priorizar minha cabeça ser rebelde e dar as costas pras redes. E eu realmente não curto ficar sozinha por longos períodos de tempo.
Pra concluir essa trilogia, sinto que o excesso de informação virtual faz mal pra minha cabeça, e que isso ocorre principalmente nesse contexto de redes sociais e sites/apps de comércio. A informação ali não tem tanto foco no conteúdo e sim em fazer a mensagem ser ouvida - mais é mais. Sinto minhas emoções manipuladas pra me fazer ir atrás de algo e isso exige que eu pare e pense por um segundo pra não gastar meu tempo com coisas que realmente não me servem.
Não quero me tornar a velha saudosista que acha que no tempo dela tudo era melhor, mas me sinto cada vez mais a vontade blogando à moda antiga. Faz um bom tempo que escrevi algo sobre a diferença entre produzir e consumir, sendo a última uma condição passiva, e quanto mais eu penso na internet, mais eu percebo que eu fico mal quando consumo muito e produzo pouco. Me forçar a produzir mais e consumir menos parece - ao menos em teoria - uma solução pra encontrar um equilíbrio saudável aqui.
PS: esse tuite de uns tempos atrás que eu acho que foi bem pertinente: