A minha bio do instagram atualmente é "entusiasta de fotografia, banda de rock e de falar mal de rede social". De fotografia e banda de rock eu já falei nesse blog, tava faltando falar mal de rede social. Até que demorou bastante, mesmo eu tendo ensaiado outras vezes dar meus dois centavos sobre o assunto.
Esse post da Uaba me inspirou muitissimo quando li. Eu também queria ficar desonline, mas não consigo. O mais perto que cheguei disso foi quando, na pandemia, passei uma semana sem redes sociais e recebi a iluminação divina: ninguém me enchia o saco. Eu tive clareza de pensamento, liberta de qualquer que fosse o clamor caótico do Twitter no momento. Percebi que postar stories sobre mim e a minha vida era um exercício tosco e narcisista que não agregava nada pra ninguém e ninguém estava interessado - não mais do que eu estava interessada em selfies ou fotos de comida alheias. Ou nos memes repetidos. Ou nos stories revoltados buscando conscientizar as pessoas de uma causa - esses eram os piores, porque ninguém me convertia a nada (era 2020, mind you. Estávamos vivendo um apocalipse). Eu só virava os olhos quando a pessoa não tinha minha opinião, e me sentia mais inflamada a reclamar se a pauta era sensível a mim, mas a reclamação efetivamente não fazia nenhuma diferença porque ficava restrita à bolha da internet. Basicamente, eu gastava muito tempo e energia tentando fazer a minha vida normalzona parecer misteriosa, descolada e boa o bastante pra gerar engajamento - mas nada disso me trazia novas amizades ou pagava minhas contas.
Depois disso fiquei sem o Instagram e passei um tempão sem Twitter. Aí fiz um outro Instagram, onde resolvi fazer tudo diferente: seguir só pessoas com quem eu não tenho vínculo emocional (pra ter menos chance de sofrer me comparando com elas), parar de seguir contas de marcas e lojas (pra receber menos anúncio e sofrer pelas coisas que eu não tenho), seguir no máximo cem pessoas (pra não me intoxicar constantemente com lixo). Acabou virando uma conta pra seguir gente que gosta de papelaria e aquarela. Se eu não te sigo ou parei de te seguir, não é nada pessoal: eu provavelmente gosto de você, e tenho interesse em partes da sua vida, mas quero controlar quando e quanto dela eu quero saber, porque tudo o que eu vejo acaba ocupando espaço na minha cabeça e se repetindo de algum modo. Às vezes, me causando bastante ansiedade. Minha conduta padrão pós-2020 é me manter ignorante do máximo de informação que eu puder, pelo bem da minha já saracoteada saúde mental - não é muito inteligente ou algo que me dá orgulho, mas tem funcionado. E devo dizer que 90% das informações que eu perco são realmente inúteis ou são coisas das quais eu tenho pouco a contribuir.
Exemplo prático: Conflito armado Israel x Palestina. Sim, sei que está acontecendo, embora eu não esteja por dentro dele neste momento. Sim, eu obviamente tenho opiniões. Obviamente estou chocada. Eu tenho algum conhecimento de política internacional pra embasar minhas opiniões? Eu tenho condições de iluminar alguém desinformado que venha a ler minha opinião? Não, então simplesmente não abri a boca sobre o assunto. Enquanto isso tem gente retuitando vídeo de gente explodindo e sangrando até a morte como se não fazer isso fosse estar pactuado com os assassinos. Mas eu já fui essa pessoa, a que pensa "os outros precisam saber disso". E não precisam não. A internet virou um grande lixão digital, cada vez mais abarrotado de sensacionalismo que informa menos e procura viralizar mais, e cada vez mais o "os outros precisam saber disso" vira "os outros precisam ver que eu me importo com isso". Faz algum sentido? Talvez aqui eu já esteja viajando na maionese. Acho que a ideia de lixão digital é justamente por ter tanta microinformação disponível sobre tanta gente, tanta coisa, que absolutamente não tem a menor relevância na minha vida e mesmo assim fica lá acumulando pó num canto do meu cérebro.
Mas eu ainda não consegui ficar offline. Vou voltar aqui e escrever mais sobre o assunto em outra hora.